segunda-feira, dezembro 05, 2005

A Charada dos Sentidos

Há coisas que fazem sentido.E outras que não o fazem.Pelo menos para nós.Há coisas que são sentidas.E outras que nem por isso.Sendo que não raro é que o sentido não o faça.Daí que já pouco me interrogue, no âmbito do meu dia a dia, se faz sentido o que digo ou se é sentido o que penso.Hoje foi um desses dias.Acordei pela manhã, seguro do meu sentido, mas logo pensei no de ontem e sem sentido fiquei.Imagino que por esta hora, alguém que perde o seu tempo passeando os seus olhos por estas linhas, já estará a dizer que o que escrevo não faz sentido algum, o que serve por dizer que, finalmente, fica demonstrado que eu perdi o sentido.E confesso que nem eu sei, mas posso assegurar que hoje sinto e ontem não sentia tanto.O que a mim me faz sentido, por um lado, sendo que, por outro, nem tanto.Há dias em que o mar me faz um sentido imenso e, quando páro para pensar no acto de o contemplar, acabe por concluir que não faz sentido algum.Dificuldade acrescida tenho quando necessário se torna escolher o sentido.O sentido do sentido ou o sentido cá sentido?Confesso que, quase sempre, confrontado com tal dilema, me ocorrem uns versos de Miguel Torga:"A vida é feita de nadas,De grandes serras paradasà espera de movimentoDe searas onduladas pelo vento..."E admito que sigo o vento.O que não faz sentido algum.Mas é sentido.Daí que nunca tenha percebido esta confusão entre o sentido racional, o da lógica, e o sentido do coração, o da emoção.Provavelmente por isso, ao fim destes anos todos, ainda privilegio o segundo.Porque o primeiro não me faz sentido ou apenas porque confundo o meu sentido.Daí, também, que sempre me fez sentido que se diga muitas vezes que ela não faz sentido.Ela, a mulher.E se sentido não faz, o que reconheço, a mim faz-me sentido.Assumo mesmo que gosto de ter o seu sentido.E que quero ser sentido por ela.Aceito que digam que nada do que eu disse faz sentido,mas o que digo não deixa de ser sentido.Basta-me isso.

Pensaralto