quarta-feira, dezembro 14, 2005

A Razão do Presépio

É sempre nesta altura do ano que inevitavelmente percebo que vivo num presépio povoado de figurinhas de barro, pintadas toscamente, que desempenham ano após ano os mesmos papéis. Em Portugal, tal como num presépio, nunca nada muda. As figurinhas são sempre as mesmas, dispostas nos mesmos sítios e fazem sempre a mesma coisa, ou seja, nada. Estão para ali com um ar petrificado, eternamente imobilizadas em torno de uma cabana com um burro, uma vaca, e um casal de tótós que admira incompreensivelmente uma criança loira estiraçada num berço feito de palhas. Há subjacente a tudo isto, uma expectativa qualquer que nenhuma das figurinhas entende. Uma expectativa de mudança e de melhoria gerada pelo nascimento da criança de cabelos loiros. Mas é uma expectativa cristalizada no próprio presépio. Daqui por um ano a criancinha continuará espojada no seu leito de palhas, rodeada por tótós e gays magos, e tudo continuará na mesma.

A Razão