quinta-feira, dezembro 15, 2005

Carta ao Pai Natal

Meu querido Pai Natal:

Ora, pois, eu bem sei que já passei a idade de acreditar em ti. Lá por isso, por favor não atires já a carta para o cesto dos papéis. Tudo o que te vou pedir não se compra. Compreendo que a crise já tenha chegado ao Pólo Norte, por isso só te peço coisas que a tua magia pode resolver. Não me digas que não tens magia, estão por aí as crianças que em ti acreditam com as mãozinhas cheias de brinquedos. Nunca percebi porque é que não espalhas essa magia por todas as crianças do mundo. Talvez os teus poderes não cheguem a tanto…Estou a afastar-me do assunto desta carta que é o de,
egoisticamente, te pedir o que quero para mim. Sim, não te iludas. Mesmo o que pedir para os outros, faço-o porque me fará sentir melhor, se acontecer.

Começo pelo nível mais alto, o mais geral. Para o mundo, eu peço-te doses “industriais” de bom senso e sentido de auto-preservação. Paz? Igualdade? Etc, etc… É isso que te costumam pedir? Mas são óbvias consequências do que te pedi. Acho eu…

Passemos a este delicioso país que nos calhou na rifa. Meu caro Pai Natal, este país é um bico-de-obra. Que pedir? Gostava que a nação (o conjunto de todos os portugueses) encontrasse esse “sentido” de nação na vivência do dia a dia. Complicado? Isto começa a parecer discurso de candidato eleitoral? Pronto, digamos então que gostava de nunca mais ouvir ninguém dizer que Portugal não se cumpriu. Que me desculpem os poetas… mas se um país com quase nove séculos de história como nação independente ainda não se cumpriu, é porque somos todos burros ou anormais. Ou simplesmente gostamos de arranjar boas desculpas para cruzar os braços e ficar na cómoda posição de espectador crítico. Vamos é cumpri-lo, exercendo a nossa cidadania todos os dias e as coisas talvez melhorem.

E para mim? Para mim é simples e complicado, ao mesmo tempo. Saúde, dinheiro e amor, não é essa a fórmula habitual? Na saúde, acho que terás pouca influência. Talvez seja melhor entender-me com os médicos.
Dinheiro, até me custa pedir com esta crise toda, mas não será possível ganhar o euromilhões? Dava cá um jeito… Mas tenho que jogar, não é? Quase todas as semanas me esqueço mas também, se ganhar jogando, não há nenhuma magia nisso.
Vê lá se consegues entender amor como o conjunto dos afectos, de índoles várias. Isto às vezes é complicado, para muita gente. Peço-te que o meu núcleo de afectos se mantenha e continue a ser o pilar da minha vida. Que mais? Talvez que eu aprenda a viver dia a dia, somando pedaços de felicidade e superando as amarguras. Não acredito que consigas dar-me isto tudo… Ah, e já agora, vá lá, faz com que o Benfica ganhe o campeonato e … esquece, isto já é superior à tua magia!

Para terminar, só quero contar-te uma coisa: eu nunca acreditei em ti. Em criança, acreditava no Menino Jesus. Quando passaste a ser moda, já não tinha idade para acreditar. Mas vi a felicidade que tu (ou a ideia de ti) pôs nos olhos das minhas filhas e acho que é só por isso que te escrevo hoje. Vais desculpar-me que te faça mais um pedido: dá-me de volta o meu espírito de Natal!Pronto, então, um beijo da

Alice

[Amigos que por aqui passam, vou fazer uma paragem até ao início de Janeiro. Desejo-vos um Feliz Natal e um óptimo 2006. E que o espírito de Natal vos encha os corações! ]

Mulherdos50aos60