terça-feira, janeiro 03, 2006

O maior espectáculo do mundo




É ao circo que pertence este epíteto. A própria definição de espectáculo vem, no dicionário da Priberam, associada à "diversão pública em circos".
Nada mais falso contestável neste epíteto, quanto a mim. Não sou propriamente um adepto de circo, mas nem por isso deixo de admirar a arte daqueles malabaristas, trapezistas, contorcionistas e dos inevitáveis palhaços, que até são os que enfrentam a mais feroz concorrência, pelo que se pode ver todos os dias na nossa televisão – mas já estou a fugir ao âmago da questão, portanto, tratarei de atalhar caminho. Gerações que vivem em trânsito e que, por sua vez, passam testemunho às gerações seguintes, preservando as tradições de família e fazendo, desta forma, a defesa de um espectáculo que, de outra forma, já teria sucumbido. Não é uma vida que consiga atrair muitos dos comuns mortais habituados aos seus, ainda que pequenos, confortos. Horas e horas de treino diário, condições de vida que, quando muito, podem ser consideradas minimamente aceitáveis, a incerteza de umas bancadas compostas nos dias de espectáculo, o constante “andar de casa às costas”…Agora vem o o grande pecado do circo e aquilo que, para ser sincero, me revolta e me afasta destes espectáculos: se esta vida é ingrata para quem a escolhe, ou quem decide dar continuidade à linhagem familiar, que dizer dos animais que tantas vezes são as atracões destes circos? Animais que, sem terem escolha possível, se vêem confinados a jaulas pequenas demais e a tratamentos inenarráveis, quer pelas constantes deslocações já referidas, quer pela alimentação pouco adequada, quer pelas horas de “treino” a que são sujeitos e a mais um infindável conjunto de factores que em nada condizem com as condições mínimas que estes animais merecem. Se é fácil concluir que os artistas de circo – estão fora desta análise, por razões óbvias, Circo do Mónaco e semelhantes - vivem no limite do aceitável, com a mesma facilidade se conclui que os animais não vivem condignamente. Longe disso.
O maior espectáculo do mundo, desta forma, não pode ser o circo.

Fragmagens